O carro 100% autônomo vem sendo testado em diversos lugares do mundo. Além das discussões sobre segurança (de pessoas e de dados) e do impacto no meio ambiente, ele traz também novas demandas no âmbito tributário.
O processo de eletrificação dos automóveis tem sido prioridade principalmente pela questão ambiental – tão discutida recentemente. A fabricação do carro elétrico, contudo, gera mudanças significativas no mercado. Os modelos híbridos se apresentam como solução transitória, oferecendo o tempo necessário para que todas as questões inerentes à mudança de matriz energética se desenvolvam naturalmente.
Um ponto importante é a adequação da cadeia de fornecedores. A produção do carro elétrico (e autônomo) demanda matérias-primas diferentes – o que influencia diretamente a balança comercial do País, já que alguns produtos deixarão de ser importados para serem substituídos por outros, importados ou não. Diante disso, haverá uma transformação radical no aspecto tributário, uma vez que a modificação das matérias-primas causa a mudança na tributação do produto final. Por exemplo: no automóvel tradicional, o preço do aço gera uma forte influência nos tributos, mas para o carro elétrico possivelmente o níquel será o elemento de maior influência devido ao uso das baterias. As montadoras deverão avaliar criteriosamente os benefícios fiscais de cada produto envolvido a fim de gerar maior lucratividade nesse sistema de produção e usar a tecnologia para evitar erros de análise, o que poderia gerar custos exorbitantes e desnecessários. Outro ponto, não menos importante, é o conflito de interesses com a indústria do petróleo, que perderá força com a propagação do carro elétrico.
No aspecto ambiental, há também um paradoxo: enquanto o automóvel tradicional emite uma grande quantidade de gás carbônico durante seu funcionamento, a fabricação do carro elétrico emite mais CO2. Além disso, resta o problema de reciclagem de baterias, algo que precisará ser reavaliado pela indústria.
A inserção do carro autônomo, por sua vez, impacta diretamente no tipo de profissionais e fornecedores da cadeia produtiva. Haverá maior necessidade de engenheiros elétricos do que mecânicos nas montadoras, que passarão a contratar mais profissionais de tecnologia para desenvolver softwares e aplicativos. Novos recursos, como sensores nas vias, também serão necessários, criando oportunidades para empresas e prestadores de serviço.
Especificamente no Brasil, há ainda a questão econômica. Embora o País tenha importantes polos tecnológicos e muito potencial para desenvolvimento, ainda recebemos novidades importadas nesse quesito. Corremos o risco de ter sempre os modelos que caem em desuso nos países mais desenvolvidos, fazendo de nosso mercado um “lixão” da indústria automobilística global. Dentro deste contexto, vale a pergunta: quantos brasileiros teriam condições financeiras de adquirir um carro elétrico e autônomo hoje em dia?
O carro 100% elétrico e autônomo só será possível, no Brasil, quando a economia estiver estável o suficiente para receber os investimentos necessários em novas tecnologias, cadeia de produção e mão de obra especializada. Somente assim haverá produção em larga escala e aceitabilidade da população, com infraestrutura adequada, níveis de segurança necessários e preços mais justos.
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